A escuta em musicoterapia como ferramenta potencializadora do processo de cuidado

Paulo R. Betencourt – Musicoterapeuta

Musicoterapia é a utilização da música e ou seus elementos (som, ritmo, melodia e harmonia) por um musicoterapeuta qualificado, com um paciente ou grupo, num processo para facilitar e promover a comunicação, relação, aprendizagem, mobilização, expressão, organização e outros objetivos terapêuticos relevantes no sentido de alcançar necessidades físicas, emocionais, mentais, sociais e cognitiva) para desenvolver potenciais e desenvolver ou recuperar funções do indivíduo  de forma que ele possa alçar melhor integração  intra e interpessoal e consequentemente uma melhor qualidade de vida” –   Federação Mundial de Musicoterapia, 1996 (Ruud, 1998)

A música sempre foi um instrumento de auto conhecimento e expressão daquilo que somos e desejamos ser. Através dela podemos criar um processo rico e transformador. Mas não basta apenas participarmos de atividades específicas. Temos que incluí-la em nossa vida como uma ferramenta que possibilita a maior percepção e escuta, seja ela interna ou dos espaços que nos cercam.

Neste sentido se faz importante algumas dicas para enriquecer ainda mais esta experiência sonora:

Em nossos encontros e processos sempre trabalhamos a importância da escuta e de como se abrir a esta experiência possibilita um contato maior com o que somos e com o espaço sonoro que nos cerca e com os afetos.

Lembre-se: ESCUTAR é diferente de OUVIR, pois tal prática envolve um comprometimento continuo de perceber e compreender os acontecimentos em nossa volta. Neste sentido criar o habito de escutar o ambiente que nos cerca e percebê-lo nos traz maior saúde,alivia as tensões e proporciona bons encontros com a vida.

A escuta é a arte que compõe e que inventa. É uma escuta que percorre diferentes caminhos – (Escuta do silêncio, de sons, ruídos, de músicas, dos desejos).

Nas experiências receptivas (ESCUTAR) podemos escutar música e responder a experiência de forma silenciosa, verbalmente ou através de outras expressões. A experiência de ouvir pode enfocar os aspectos físicos, emocionais, intelectuais, estéticos ou espirituais. Seus aspectos são:

  • Promover a receptividade;
  • Evocar respostas corporais especificas;
  • Estimular ou relaxar;
  • Desenvolver habilidades áudio-motoras;
  • Evocar estados e experiências afetivas;
  • Explorar ideias e pensamentos;
  • Facilitar a memória, as lembranças, e as regressões;
  • Evocar fantasia e imaginação;
  • Experiências espirituais e afetivas.

 “Na musicoterapia, o processo de resolver “problemas musicais” é concebido de forma semelhante ao processo de resolver “problemas da Vida”, e acredita-se que as habilidades adquiridas para encontrar soluções musicais se generalizam para situações da vida”. (BRUSCIA,2000)

Interagir com os instrumentos cria contato e amplia a escuta. Os timbres, ritmos, intensidades, textura e outras qualidades e características da música e de cada instrumento existente possibilita este encontro de potencialidade.

Veja algumas possibilidades de instrumentos: Porque não comprar um de seu gosto e interagir em casa com seus familiares e na relação de cuidado com o idoso ? Quem sabe apenar brincar um pouco?

 

SILÊNCIO COMO POTENCIAL CRIATIVO

Música não é somente SOM mas também SILÊNCIO! O silêncio ele não existe, pois sempre quando silenciamos podemos escutar outros sons mais sutis. PARA ONDE VAI A MÙSICA QUANDO ELA NÃO ESTA SENDO TOCADA?

  • “O silêncio é um espaço de conexões, uma abertura aos insights”
  • “O silêncio é uma caixa de possibilidades. Tudo pode acontecer para quebrá-lo. É a característica mais cheia de possibilidades da música”.

A VOZ E O CANTAR HUMANO

  • A voz está intimamente ligada ao que há de mais subjetivo em nós.
  • A música revelará o início do reencontro com a própria identidade, colocando-o como agente e sujeito da ação, aumentando a percepção de seus próprios sentimentos, emoções e conflitos, e consequentemente, possibilitando o relacionamento com o outro e a inserção no discurso cultural”

Desta maneira através de uma ESCUTA atenta e ativa podemos interagir seja com os instrumentos, com o canto, com o silêncio e assim ir percebendo a nós mesmos e o outro. Isso se chama encontro.

Também podemos improvisar e encontrar inúmeras possibilidades de escuta neste processo, entre elas citamos:

  • Sentido a auto-expressão e a formação da identidade;
  • Explorar os vários aspectos do eu na relação com os outros;
  • Desenvolver a capacidade de intimidade interpessoal;
  • Desenvolve habilidades grupais;
  • Desenvolve a criatividade, a liberdade de expressão, a espontaneidade e capacidade lúdica;
  • Estimula e desenvolve os sentidos;

“Quando improvisamos ou resolvemos problemas musicais somos atores mudando nossa vida e emoção, somos agentes de transformação da nossa

Dica de Filmes: O som do coração – 2007(EUA) / A Música Nunca Parou, 2011 (EUA)/  A vida no paraíso, 2003 (Suécia) /  Sokout (Silêncio) – 1998 (Irã) /Vermelho Como o Céu, 2006 (Itália)

 

Artesanato com idosos e a reutilização de vasos plásticos

Professora Simone Bergamo

Reduzir, Reutilizar e Reciclar

Trabalhar com a reutilização de materiais recicláveis e principalmente aqueles que utilizam plástico em sua fórmula como material principal é uma boa forma de ajudar o meio ambiente, pois o plástico é muito danoso ao meio ambiente, normalmente se leva de 100 a 400 anos para que o plástico seja totalmente deteriorado, então a melhor forma de pensar em sustentabilidade é pensar em reciclagem.

Como reutilizar um vaso plástico (de mudas)

(aquele vaso preto de plástico que vem com mudas de plantas, no exemplo vamos utilizar como cachepô)

Passo a passo:

  • Lavar e secar muito bem o vaso;
  • Passar duas demãos de Primer para metais, PET e vidro ou apenas uma mão de Pasta para Modelagem. Ambos são necessários para que a tinta possa aderir ao material. A diferença é que a pasta para modelagem fica em relevo formando uma textura;

Preparo do material

  • Aguardar secagem de 4 horas;
  • Pintar o vaso com tinta PVA ou tinta acrílica;
  • Após secagem da tinta podemos colar gravuras de papel por cima;
  • Após secagem finalizar com verniz brilhante ou fosco.

A seguir alguns trabalhos realizados pelos idosos

Trabalhos confeccionados pelos idosos

Borboletas: a construção de uma vida

borboletas

“Ganhei uma pequena ampulheta de vidro. De longe o punhadinho de areia colorido parece levitar. E quando manipulada, um fio cor-de-rosa escoa muito rápido. Tão rápido que o tempo que ele marca parece ser apenas o “agora”. Ou será que é do próprio tempo passar assim tão rápido?” (Critelli, D. Folha de São Paulo – Outras idéias 04/01/207)

Rafael Ludovico Moreira – Musicoterapeuta

Podemos entender a vida como um conjunto de acontecimentos que se sucedem e demarcam uma trajetória. Durante essa caminhada fazemos planos, criamos expectativas, imaginamos, fantasiamos o que no momento entendemos como melhor. Mas o que é melhor? Como viver com plenitude?

Diversos autores elaboram teorias, esquemas, estratégias, como em uma receita de bolo esquematizam ingredientes (sentimentos e pessoas) e procedimentos (condutas que devem ser tomadas durante a vida para uma pseudo-plenitude).

Particularmente não acredito em receitas e penso que nem todos os planos satisfazem os nossos reais desejos e vem de encontro ao que precisamos realmente (sem contar que planejamento não garante estabilidade e/ou sucesso).

Ouço muito de pacientes ou cuidadores de pessoas fragilizadas questionamentos como “Por que isso está acontecendo?; Por que meu familiar deprimiu? Demenciou? Se esqueceu de mim?; O que acontecerá agora?; Como será depois?; Fizemos planos, e eles se esvaíram. Por quê?

Sempre respondo (acredito que de maneira não muito satisfatória para quem escuta), que infelizmente não tenho respostas, gostaria, mas não as tenho. Não é possível reduzir um vida em frases simplórias, sem fundamentação, sem conhecer e compartilhar experiências. Penso que a vida é constante transformação e adaptação.

Para algumas culturas a borboleta pode significar transformação, transmutação, suas asas são coloridas, podem simbolizar beleza, seu voo pode representar inconstância, efemeridade, novos projetos. Algumas pessoas tatuam esse animal em seu corpo buscando representar a capacidade de se readaptar.

Penso que podemos imaginar nossa vida, nossa caminhada, como feita de borboletas. Precisamos entender que adaptar-se às dificuldades lançadas em nossa caminhada fazem parte dessas constantes evoluções. Como dito anteriormente, não sei por que algumas coisas acontecem, mas elas aparecem e precisamos aprender a desenvolver essa plasticidade, essa capacidade de adaptação.

O tempo se esvai constantemente, nos consumindo, roubando momentos, no entanto todos sabemos (ou deveríamos saber) dessa invariável da vida. Não cabe reclamar pelo que nos acontece ou planejar avidamente um futuro incerto, cabe-nos entender como funciona essa grande engrenagem que se chama vida e saber colher os mimos que nos são presenteados, suspiros, sorrisos, conquistas, aromas, manhãs de primavera e noites estreladas, afinal, como já cantou o poeta:

“Ando devagar porque já tive pressa
Levo esse sorriso porque já chorei demais
Hoje me sinto mais forte, mais feliz, quem sabe?
Só levo a certeza de que muito pouco eu sei
Ou nada sei.
[…]
Todo mundo ama um dia todo mundo chora,
Um dia a gente chega, no outro vai embora
Cada um de nós compõe a sua história
Cada ser em si carrega o dom de ser capaz
De ser feliz.
[…]
Conhecer as manhas e as manhãs
O sabor das massas e das maçãs
É preciso amor pra poder pulsar,
É preciso paz pra poder sorrir,
É preciso a chuva para florir.
(Sater, 1992)

Referências

(Critelli, D. Folha de São Paulo – Outras idéias 04/01/207)

Sater, A. Música Tocando em frente. Ano de lançamento 1992