Jogos + Idosos = capacidade de interagir e habilidades cognitivas aumentadas

Ana Nakamura

A partir de algumas imagens podemos observar  momentos de sociabilidade que os jogos tem produzido em tantas velhices, presenciadas nestes enriquecedores três anos (e contando) nos centros-dia em centenas de partidas. Apreciaria que muitos verificassem, não por exibicionismo ou divulgação de jogos ou serviços, mas para que outras pessoas pudessem enxergar as potencialidades de seus (e também nossos) idosos, percebendo que há finitude no caminho sim, mas que enquanto ela não chega de fato, existe vida ali dentro, onde cabe muito respeito e cuidado (e jogos!).

Interação dos idosos com os jogos

No entanto, descrevo aqui uma fração dos “resultados da equação”, que intitula este não tão breve texto. O título denota, de algum modo, minha formação em Exatas, e que hoje, de modo absolutamente compensador, mistura-se com a área de Humanas.

Aproveito, ainda neste texto, para contar também sobre a imensa e essencial contribuição dos profissionais envolvidos neste jogo, cujo objetivo é proporcionar momentos lúdicos aos idosos, para que estes, se assim desejarem, divirtam-se com os jogos, tendo como bônus adicional mais interações sociais, e desenvolvimento de habilidades físicas e mentais.

Embora os jogos possam ser jogados individualmente, a presença de outras pessoas traz animação ao momento do jogo, proporciona ainda a troca de conhecimento, a empatia e auto-descobertas do jogador.

Momento de jogar!

Quando um idoso inicia-se no jogo, este tem a possibilidade de descobrir-se capaz, pode encontrar potencialidades esquecidas e ou enfraquecidas pelos tantos caminhos e obstáculos já ultrapassados. Este jogador pode ainda encontrar dificuldades, esbarrar em limites (que às vezes são suposições temporárias), e querer (ou não) superar um desafio. Seja qual for a escolha, continuamos todos juntos no jogo e aceitamos novos jogadores, de qualquer idade!

Quem ajuda nestas interações, descobertas e superações são os profissionais e gestores, próximos aos usuários dos serviços para os idosos, como os centros-dia. Por vezes, são pessoas com uma visão ampliada, de cuidado sincero, que acreditam realmente na capacidade dos idosos; que respeitam e compreendem os avanços, estagnações e declínios de cada idoso, diferente em suas várias velhices. São Profissionais queridos, que não desistem no primeiro declínio, e nem no último; que persistem e acreditam, da primeira à última jogada, que comemoram com os idosos, a cada pequena ou grande conquista.

Recentemente recebemos um grupo de estudantes universitários no centro-dia para idosos (CDI), que vieram conhecer os idosos com o objetivo de desenvolver um game para celular ou tablet. A maior parte dos idosos do CDI está bastante acostumada a jogar uma série de jogos, sejam os jogos digitais ou os não digitais.

Interação dos estudantes com os idoso

A interação dos idosos com este novo grupo, por meio dos jogos, aconteceu de modo muito fácil. Os idosos mostraram-se confortáveis com as novas pessoas e relações a tecer, afinal eles conheciam todos os jogos, estavam empoderados com as informações retidas e aprendidas, estavam então aptos a ensinar aos novos jogadores como jogar, pois sabiam as regras básicas dos jogos.

Muitos destes jogadores idosos, mesmo quando me relatam não saber tal jogo, após alguns minutos de partida, retomam as informações de semanas ou meses, e logo começam a jogar com muita naturalidade e destreza. É um fato recorrente, independente do dispositivo: videogame, tablet, e jogos “de mesa” (os jogos não digitais).  Por exemplo: a movimentação correta que os nossos jogadores mais experientes fazem nos jogos com o videogame Wii, nem sempre acontece na primeira jogada, mas a partir da segunda ou terceira, há um rearranjo do corpo, em que mente e movimento produzem a jogada certa.

Outro exemplo: um dos jogadores, com a memória mais preservada, mas que demonstrava sempre muita reserva, dificuldade em tomadas de decisão, e difícil elaboração de discurso, foi se apropriando (com apoio) de papéis em que precisava tomar decisões nos jogos, escolhas simples, mas executadas, em seu ritmo e em cada partida semanal.

Este idoso foi nomeado o juiz da partida (com direito a apito!), validando as respostas dos demais; tornou-se banqueiro no jogo, administrando o dinheiro, fazendo contas e fornecendo os cartões das propriedades vendidas no jogo. É o idoso que em determinado jogo, sabe as regras, e consegue então elaborar um discurso para argumentar o motivo da estratégia e então passar “a dica” do jogo, ensinando o que aprendeu para um grupo de estudantes.

E assim tornou-se o grande Consultor do jogo, ajudando os universitários a resolver o difícil desafio proposto. Sua consultoria nos rendia, e lhe rendia enormes sorrisos, além de muita satisfação. Havia neste jogador uma parte muito capaz dele, que estava ali, encolhida e apagada, mas que foi ressignificada e hoje este idoso entra diferente, num jogo que certamente já venceu!

 

Games: devo jogar?

Ana Nakamura

[email protected]

Certamente jogar por dever não é boa ideia, “dá jogo ruim” aliás. Por definição, um jogo deve acontecer por livre vontade do possível jogador, ou no caso, do idoso convidado. Os games de fato contribuem para melhorar nossa memória, desenvolver nossas capacidades de resolver problemas, nos colocar em uma outra realidade (ainda que temporária) – nos transportando para longe de preocupações e pequenos incômodos físicos ou emocionais, permitem ainda melhorar a coordenação motora e outras habilidades cognitivas e sociais. Mas nem sempre há jogo, e não há problemas nesta situação, quando o convidado quer apenas descansar, acompanhar os demais ou fazer algo que por vezes também queremos: “fazer nada”, em dado momento.

Respeita-se e então quando há a oportunidade, conta-se a razão da atividade de jogar ou faz-se novamente um convite para um jogo que nem parece ter alguma função, com um objetivo que aparenta ser apenas lúdico. Há uma variedade destes jogos disponíveis que são utilizados no centro-dia para idosos, e 3 aplicativos são sugeridos desta vez, preferencialmente para uso em tablets para melhor aproveitamento da acessibilidade deste tipo de dispositivo:

  • MahJong Epic – é o game preferido e mais solicitado pelos idosos no centro-dia. Mesmo os idosos com a memória mais comprometida, ao iniciar o tabuleiro, logo lembram-se como devem jogar. Entre as habilidades trabalhadas neste jogo estão as habilidades visuoespaciais ¹ como a busca visual planejada, que acontece quando se faz um rastreio em uma área definida e uma avaliação de figuras com rapidez e eficiência, trabalha-se também a memória visual de curto prazo, utilizada para o reconhecimento das imagens observadas em momento anterior. No mesmo jogo, a lógica também é utilizada na comparação das peças rastreadas, sendo possível explorar mais aspectos da memória e linguagem se for proposto que o jogador diga o nome das imagens, ou caso não saiba, pode dizer a cor ou forma.

Jogo Mahjong Epic                                                             Fonte: Google Play  Store

  • Jigty – um aplicativo de quebra-cabeças de imagens. Há uma série de imagens disponíveis com configurações do número de peças e rotação, porém a opção mais interessante é utilizar as fotos de sua galeria pessoal. Além da habilidade visuoconstrutiva (capacidade de construir uma imagem com ou sem um modelo), é possível tentar nomear as pessoas da foto, de reconhecer-se nas fotos, e ainda situar o jogador no tempo ou evento em que a foto foi registrada, incentivando assim a memória do jogador. Observar a organização do jogador enquanto monta a imagem é importante, para verificar sua lógica e caso ela inexista, pensar quais seriam então as alternativas para que o jogador volte a se organizar neste tipo de raciocínio.

Tela do Jogo Jigty           Fonte: Google Play Store

  • Classic Labyrinth 3D Maze – Um jogo de labirintos com níveis graduais de dificuldade, para conduzir uma bolinha a partir do movimento do próprio tablet, inclinando-o. A informação que captamos com nossos olhos é a base para então fazermos o movimento das mãos necessário para atingir os objetivos deste jogo, trata-se de uma habilidade cognitiva complexa, já que precisamos das nossas capacidades visuais e motoras. São as mesmas habilidades que precisamos para uma tarefa comum, como inserir uma chave na fechadura, um cartão em um leitor, na prática de esportes ² etc.

Tela do Jogo Classic Labyrinth 3D Maze     Fonte: Google Play Store

A explicação da função do jogo é um incentivo para a sua prática. Muitos idosos, a partir deste conhecimento passam a jogar imediatamente, desafiando-se, e persistindo a cada partida, e descobrem que, independente de pontuações, na verdade estão sempre ganhando mais habilidades. Alguns idosos demoram mais tempo a jogar, e há os que não vão jogar também por tempo indeterminado, pois preferem outro tipo de atividade – o que é absolutamente natural – há também a crença de que não podem parar para “brincar”, especialmente na idade que se encontram.

Entretanto, convidar um idoso para um jogo é sempre uma oportunidade de conversar, escutar, trocar conhecimentos, e reviver. Fica a sugestão para que o leitor convide um idoso, familiar ou não, para jogar, além de divertir-se, pode ser um bom momento para ambos, que vão ganhar pontos de bônus nas habilidades sociais, emocionais e cognitivas.

[1]Domínios Cognitivos – Habilidades visuoespaciais: conceitos e instrumentos de avaliação

http://www.sbnpbrasil.com.br/boletins_39_145_2015_0

[2]Coordenação olho mão –  https://www.cognifit.com/br/habilidade-cognitiva/coordenacao-olho-mao

Links dos jogos sugeridos

Mahjong Epic

https://play.google.com/store/apps/details?id=com.kristanix.android.mahjongsolitaireepic

 Jigty

https://play.google.com/store/apps/details?id=com.outfit7.jigtyfree

 Classic Labyrinth 3D Maze https://play.google.com/store/apps/details?id=de.pictofun.labyrinthone

 

Demanda físicas e cognitivas dos games – práticas em Centros-dia para idosos

Ana Nakamura

Instrutura de tecnologia Assistida

Muitos idosos, ao serem convidados para jogar games, demonstram um receio inicial. Grande parte deles não sabe mesmo como jogar e também preocupam-se com o seu desempenho em relação aos demais. É uma situação muito comum, e por outro lado, outros idosos aceitam prontamente o desafio da nova atividade. Dependendo da temática do jogo pode ser mais fácil sua aceitação, como por exemplo, jogos com temas de práticas esportivas.

Tenho proposto nos centros-dia, um game que auxilia no controle da marcha dos idosos, e que exige além do aspecto físico, também o cognitivo, em relação a atenção, planejamento, tomada de decisão, memória, e inibição de resposta.

O jogo tem boa acessibilidade, já que pode ser jogado inclusive sentado, e sem a plataforma de equilíbrio (Balance Board). Alguns dos alunos, que não podem manter-se em pé para realizar os movimentos, jogam sentado e experimentam a mesma sensação (de participar e de literalmente estar no jogo) dos que jogam em pé.

Um destes jogos é de uma caminhada. O Obstacle Course, oferece vários percursos a serem completados e obstáculos a desviar, e isto deve ser feito controlando a marcha (acelerando e desacelerando). Duas situações podem ocorrer se o jogador “descontrola-se”: ou é arremessado por uma bola gigante, ou cai na água. Em qualquer um dos casos, é certamente a hora mais divertida do jogo, pois o próprio jogador e os que estão apenas assistindo, ficam imersos na experiência e comemoram ao escapar dos obstáculos, ou riem uns dos outros quando divertidamente “fracassam” no percurso.

Na verdade não fracassam, ao contrário, estão ganhando controle sobre seu equilíbrio e marcha, além de divertirem-se bastante com a torcida dos demais jogadores, e com o próprio  desempenho no game. Assim como a parte física é exigida, há demanda e melhora da cognição.

O videogame Nintendo Wii tem um jogo de corrida simples, em que o jogador deve seguir um líder (que pode ser uma pessoa ou um animal de estimação), trabalhando também a marcha do jogador, além da cognição, pois no final há perguntas sobre o percurso, para testar a atenção e memória do jogador. Veja o vídeo com o jogo Basic Run:

Assim, com pesquisas científicas e práticas como estas podemos verificar os benefícios destes games de marcha, que promovem ainda a alegria dentro do grupo, aumentando as contribuições dos games (Exergames) para idosos.

 

 

Equilibrando habilidades com games

Ana Lucia Nakamura

Instrutora de Tecnologia Assistida

Entre as atividades propostas com os Games, a plataforma de equilíbrio (“Balance Board”) é uma das mais empolgantes atividades entre os idosos do centro-dia Angels4u. A plataforma de equilíbrio é um equipamento da Nintendo, e por aqui utiliza-se com o game Wii Fit.

Há várias opções de mini-jogos, porém o preferido dos idosos atendidos é o “Table Tilt” – que tem por objetivo manter o equilíbrio na plataforma, guiando bolinhas até um ou mais buracos. E se a tarefa lhe parece fácil, saiba que não é tão simples. O nível de desafio aumenta com o progresso entre as fases do jogo, e aí surgem várias bolinhas, as quais você deve manter na “mesa”. Para tanto, é preciso equilibrar-se, não somente dividindo o peso entre direita e esquerda mas também para frente e para trás quando necessário; a atenção também é dividida entre a estratégia – para atingir o objetivo, as bolinhas que quase caem e o equilíbrio do corpo.  Ao mesmo tempo que seu cérebro precisa comandar tudo isso (fazer o corpo obedecer), é preciso organizar todos os comandos em um tempo determinado, assim, além de equilibrar, planejar a melhor estratégia para ganhar, ainda é preciso fazê-lo a tempo, para progredir no jogo.

Entenda melhor assistindo este vídeo: https://www.instagram.com/p/BKoeBjkB_Rr/

Todas essas habilidades juntas, fazem nosso cérebro trabalhar mais e nos coloca em um estado de imersão, sem tempo de pensar em outros assuntos, preocupações, dores, compromissos. E assim, com essa mudança de foco dos pensamentos, novos estímulos são percebidos e trabalhados. Além disso, o jogo é divertido e os idosos se envolvem, atentos ao próprio desempenho e dos demais participantes, sempre tentando encaixar mais uma bolinha para fazer mais pontos.

Bons jogos nos colocam em imersão, com eles vamos à uma realidade diferente. Os jogadores (idosos ou não) percebem que podem aprender, que são capazes, que tem autonomia, ao escolher se querem jogar, se querem tentar ou não mais uma vez, são ainda desafiados, porque, como no jogo (e na vida real), fica o questionamento: o quanto seremos capazes se tentarmos mais uma vez aquela tarefa que ontem pareceu difícil? Perdem? Ganham? Perdemos e ganhamos o tempo todo, e é esse o jogo, seja ele qual for. Fato é que aprendemos no processo, independente do resultado “final”.

Idosos e idosas do centro-dia Angels4U aprenderam a jogar o “jogo das bolinhas” como eles dizem, e é sempre gratificante vê-los tentando, desenvolvendo novas estratégias, evoluindo e claro – divertindo-se, pois não há bom jogo sem diversão, e como se divertem! Bastam as imagens (Sr. Francisco, Sra. Lúcia e Sra Yoshiko) para verificar a diversão dos idosos, que desenvolvem e demonstram suas habilidades cognitivas, motoras, sociais e emocionais.

angels4u-plataforma-table-tilt-wii-francisco angels4u-plataforma-table-tilt-wii-lucia angels4u-plataforma-table-tilt-wii-yoshiko (1)

 

É possível verificar nas fotos, a acessibilidade do Wii, o uso da plataforma de equilíbrio tem sido uma boa experiência nos Centros-dias, mesmo com os jogadores que não podem ficar em pé sozinhos, ou com os que ficam em pé com dificuldade (nesta hora, um andador é fundamental para dar segurança ao jogador). Alguns jogadores do centro-dia jogam sentados e conseguem os mesmos benefícios dos demais, sem contar que eles podem ser incluídos na atividade e sentem-se felizes, com adaptações e incentivo, a atividade torna-se possível.